Santo: o ativista do sentir 

Meu primeiro encontro com a arte de Santo aconteceu na casa da minha querida Lilian Malta.
Entre tantas obras que ela abriga, foi a dele que me atravessou.

Cheguei em casa com aquele incômodo bom — o de querer entender o porquê. Fui procurar quem era aquele artista que eu sentia conhecer, mesmo sem nunca ter visto.

Comecei a segui-lo e tive a certeza: ele seria meu próximo entrevistado!

Há artistas que pintam por técnica, outros por vocação. Santo pinta por necessidade. Uma urgência de alma, um jeito de respirar entre uma lembrança e outra.

Na primeira troca, já parecia alguém de casa.

O menino nascido no subúrbio do Macuco — um bairro portuário e suburbano de Santos — cresceu entre o concreto e o comum. Ali, na casa da rua Luís Gama, aprendeu sobre partilha e sobrevivência. “Lá encontrei senso de comum, de compartilhar. As potências que a escassez propõe”, diz. Da mãe, da avó Elza e da tia Regina herdou força, fé e o dom de fazer do pouco um universo inteiro.

Essa habilidade de sobrevivência, construída desde cedo, é a mesma que hoje se revela em suas pinturas — obras que falam de um lugar indizível, onde o sentimento se expressa para além da forma. As figuras que habitam suas telas não têm medo de se revelar. São não lineares, sem contornos, sem parâmetros. Quebram regras, desconfortam. Santo não se prende a métodos nem plataformas: ele provoca o equívoco, o deslocamento, o convite a existir sem moldura.

Antes da arte, vieram as quadras. O adolescente que sonhava ser jogador de basquete profissional viu no esporte uma chance de respiro. “O esporte me salvou da rua, da violência, do tempo desperdiçado”, lembra. Mas quando o contrato prometido não veio, o destino o conduziu a outros caminhos — primeiro ao mundo corporativo, onde chegou a liderar operações internacionais em uma multinacional de logística. “Foi divertido e exigente, mas fundamental. Ali aprendi sobre tempo, disciplina e processo.”

O ponto de virada aconteceu em um dia comum de trabalho. “O telefone do escritório tocou. Era uma diretoria de transportes especiais, materiais bélicos”, recorda. “Nesse dia, notei que as coisas às quais eu me submetia em prol de vencer não mais me faziam respirar feliz”, relembra. Ele subiu até a sala do presidente e pediu desligamento. Assim mesmo, sem plano, mas com coragem.

 Foi quando o silêncio abriu espaço para o sentir.

Os stories do Instagram, antes simples registros do cotidiano, se transformaram em pincéis digitais. Gente do mundo todo começou a pedir quadros daquelas criações intuitivas. “Notei que acontecia algo além do comercial.”

A primeira tela, Radha, nasceu em 28 de maio de 2018 — e com ela, uma revelação. “Por que eu não fiz isso antes?”, perguntou em voz alta, emocionado. Desde então, volta a esse estado todos os dias. Hoje, são mais de 4.500 obras — um acervo que é também espelho de si mesmo.

O nome Santo veio em sonho. Uma mulher, Sara, tocou-lhe o ombro e disse:
“Fecha o olho. Respira fundo. Levanta o queixo. Solta o ar e abre o olho. Nunca mais duvida do que teu coração já sabe ser possível existir. Levanta, que tu te chamas Santo.”

Ele acordou e nunca mais duvidou.

Desde então, o artista carrega o nome e o propósito: Ativista do Sentir.
Um manifesto, uma filosofia, um estado.

Seu processo criativo é tão imprevisível quanto preciso. “Um amigo especial, o pintor Chico Chaves, sempre diz: ‘é trabalho, Santo!”, ele ri. “O dom, o tom, o sim, a dor, a cor... vai te encontrar no gesto do teu âmago. E isso vai fazer algo bonito existir.”

Hoje, ele comanda o Escritório Santo de Arte, um espaço que vai além da pintura: projetos sociais, intervenções urbanas, rodas de conversa e exposições que buscam expandir o sentir para o coletivo. A arte, afinal, é uma forma de presença no mundo.

Pai de três — Rodrigo, Maria e Madalena — Santo encontra na paternidade o espelho mais bonito da própria jornada. “Eles me trouxeram até aqui. Três tempos, três pilares do amor que consigo perceber em mim.”

Se pudesse escrever uma carta ao Santo de 19 anos, aquele que ainda sonhava com o basquete, ele diria: “Abrace as escolhas. Vivemos equívocos lindos. Vai doer, mas vai. Divirta-se muito. Isso você sabe fazer.”

E quando o assunto é futuro, Santo não o projeta.
Sinto tão e tanto urgente... tenho dedicado atenção e intenção no agora. É tudo pra ontem”, conclui com aquele sorrisão no rosto que vibra e tudo faz parecer mais iluminado.

Obrigada por ser um respiro, Santo — um lembrete de que há beleza em simplesmente estar :)

Para quem quiser conhecer todas as obras do Santo, o Instagram dele é o @ativistadosentir e lá você pode pedir todas as obras disponíveis. Sigo aqui, desejando uma para o meu escritório!

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